A cada ano, esse ponto se torna um destino mais popular entre os turistas de aventura e objeto de estudo dos amantes da história riograndense. A ferrovia do trigo - assim chamada pelo fato de ter sido construída para escoar os grãos produzidos no planalto riograndense até o Vale do Taquari - possui uma das maiores obras ferroviárias da América Latina.

Quando eu resolvi fazer essa travessia, encontrei pouca informação sobre ela na internet. Mesmo assim, somente tendo visto um vídeo no youtube sobre ela, decidi que, sim ou sim, teria que conhecê-la. E prontamente, organizei um par de coisas em minha mochila (água, alimento, lanterna, uma barraca e um cobertor qualquer, visto que naquela época nem possuía equipamento para tal aventura) e fui, sozinha e de carona, rumo a Guaporé, uma cidadezinha interiorana e pacata na Serra Gaúcha por onde passava os tais trilhos.

As sensações durante o percurso são diversas, passando de claustrofobia a vertigem em questões de instantes. Dentro dos túneis, a fuligem recobre toda a paisagem ao meio do breu, que consegue ser vista somente com a ajuda de uma lanterna (portanto, não a esqueça!), devido a distância e curvas dentro das obras, que impossibilita a chegada da luz. Ainda, devido a distância entre as aberturas, o ar torna-se pesado devido a baixa circulação do vento e pelo carbono liberado pelos trens.
Nessa parte da leitura do texto, certas ideias devem surgir no cérebro do leitor:
FATO 1: Os trens liberam fumaça dentro do túnel. Isso significa que todavia há trens circulando;
FATO 2: Os túneis são longos, podendo ter até 2 km de extensão. Logo, tarda-se em atravessá-lo a pé;
FATO 3: Trens locomovem-mais rápido do que seres humanos.
PERGUNTA 1: Se eu estiver dentro do túnel e um trem se aproximar. O que farei?

PERGUNTA 2: Ok, nos túneis estarei salvo, mas e nas pontes?

Para embelezar mais todavia a experiência da travessia da Ferrovia do Trigo, é imperdível acordar cedo e ver o amanhecer com serração da serra gaúcha (de preferência em alguma ponte alta). A neblina que aos poucos se eleva da vegetação densa encontrada nos vales, diminui a visão do caminhante a poucos palmos de profundidade, proporcionando uma sensação de estar caminhando em direção a algum lugar imaginário...
- Caminhar sobre os trilhos do trem é um exercício muito cansativo, devido ao espaçamento entre os dormentes que não acompanha o ritmo das passadas normais e pela enorme quantidade de pedras, que são ótimas para uma torção se não tomar cuidado. Assim, recomenda-se levar pouco peso para diminuir o impacto e a utilização de calçados confortáveis.
- Devido ao tráfego noturno de trens, é recomendável montar acampamento o mais afastado possível dos trilhos, para evitar objetos que possam ser arremessados pela passagem do trem.
- No verão, cobras tendem a refugiar-se entre os dormentes dos trens, logo, cuidado onde pisas!
- Há grande quantidade de córregos potáveis e mangueiras que levam água as propriedades rurais pela ferrovia, possibilitando o reabastecimento durante o trajeto. Ao utilizar um desses encanamentos para obtenção de água, certifique-se que ele seja posteriormente bem fechado. Além dessas fontes de água, as bergamoteiras que fornecem um apetitoso lanche durante os meses inverno, quando ocorre sua frutificação.
- As temperaturas variam muito anualmente. No verão, as máximas chegam a quase 40ºC e no inverno, podem ocorrer temperaturas negativas. Vá preparado para a estação escolhida! Não faça como eu, que quase congelei durante a noite!
